Nelson M. Mendes
Dizem que o Diabo mora nos detalhes. A tergiversação, uma de suas diletas filhas, também.
Vamos, pois,
deixar de lado os detalhes: a delação, o juiz partidário, o grampo ilegal, o
vazamento seletivo de informações, o STF, o dinheiro, a prisão, o político, o
jornalista.
Vamos nos
fixar no essencial. E o que seria isso? A corrupção?
A julgar
pelo destaque dado pela mídia ao assunto, a corrupção é, sim, o grande problema
brasileiro. E, para continuarmos atentos ao essencial, esqueçamos que a
corrupção vem dos tempos coloniais, nutriu-se nos intestinos da ditadura
inaugurada em 1964, etc. Vamos
acompanhar a narrativa da grande mídia nas últimas décadas: a corrupção, se não
foi inventada pelo PT, foi “aperfeiçoada” e potencializada pelo PT.
Você
acredita mesmo nisso? Respondemos: não, você não acredita nisso. Você QUER
acreditar nisso porque, desde que era muito jovem, foi ensinado a temer e odiar
qualquer coisa que significasse um questionamento do sistemão que prevalece há
séculos e, em seu upgrade chamado neoliberalismo, domina o planeta desde a
primeira metade do século XX. E o que o PT tem a ver com isso? Ora, na ótica
radical e fundamentalista dos adeptos do sistema, o pecado está até no nome: “Partido
dos Trabalhadores” só pode ser coisa de comunista.
Parece muito
cru e simplista o raciocínio? Pois trata-se exatamente disso: simplismo,
reducionismo, lavagem cerebral. A tergiversação, nesse contexto, é até uma
evolução.
A
tergiversação entra para fazer as massas acreditarem que a corrupção é o grande
problema brasileiro, e que o PT (a bola da vez progressista, nas últimas
décadas) é o partido mais corrupto de todos. Como queremos nos fixar no
essencial, não vamos mencionar as riquezas fantasiosas atribuídas a Lula
(aviões decorados a ouro, fazendas suntuosas, etc.) ou, no outro lado do espectro
político, mencionar aeroportos particulares construídos com dinheiro público,
helicópteros com meia-tonelada de cocaína, contas bilionárias no exterior, e
assim por diante; ou ainda falar de um governo ilegítimo que tem a recordista
quantidade de nove ministros citados numa investigação policial. Não vamos falar nada disso, porque a
corrupção não é o assunto que nos interessa.
E o que nos
interessa?
O que nos
interessa é denunciar falácias. Como a de que a principal sangria do Orçamento
Federal é a Previdência – quando é o serviço da Dívida Pública (nunca auditada)
que compromete quase metade dos recursos do país; ou a falácia ainda mais
prestigiosa de que a corrupção – e particularmente do PT – é o principal
problema brasileiro.
Ora, o
Brasil tem problemas muito mais sérios – a começar por políticas em que os
interesses brasileiros são colocados abaixo de interesses externos; os
interesses do povo, abaixo dos interesses das elites; os interesses do
Trabalho, muito abaixo dos interesses do Capital. (Não, ninguém aqui é
marxista. Jamais sequer lemos Marx. Mas temos olhos para ver, cabeça para
refletir, e repelimos os produtores de falácias, os tergiversadores.)
Então é
isso: o principal problema brasileiro é a desigualdade. Para mantê-la, o Diabo
e seus asseclas (políticos, banqueiros, megaempresários, empresários da mídia,
jornalistas mercenários, juízes partidários, etc.) tergiversam. Enganam. Iludem
as massas.
Prestidigitação
é isso: enquanto o mágico chama a atenção do público para detalhes sem
importância, um elefante se materializa no fundo do palco.
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